- Eu estava doentinho, espirrando, tossindo, febril, não conseguia comer nada, não podia brincar, nem vir à escola. Aí, de noite, a mamãe esfregou Vick Vaporub no meu peitinho, me deu um leitinho quente com um comprimidinho, me cobriu, eu dormi e, no dia seguinte acordei bonzinho e feliz. Mãe, só tem uma!
A classe toda aplaudiu, a professora elogiou, deu dez para Giovani. Chamou o Carlos, que já foi logo lendo a dele:
- Eu tinha prova de Conhecimentos Gerais no dia seguinte, não sabia nada, não conseguia decorar nada, comecei a chorar, achando que ia tirar zero. Aí a mamãe sentou do meu lado, pegou o livro, me explicou tudo direitinho, tomou a minha lição e eu fui dormir sossegado. Quando acordei senti que sabia tudo, vim à escola. Fiz a prova e tirei 10. Mãe, só tem uma!
A classe, emocionada, também aplaudiu Carlos. A professora deu dez para ele também. Desta vez chamou o Joãozinho:
- Cheguei no barraco, minha mãe estava na cama com um cara que não conheço, diferente do cara da semana passada, gritou para mim: "Joaõzinho, seu neguinho fdp, vai lá na geladeira e traz duas cervejas". Aí eu abri a geladeira e gritei pra ela: "Mãe, só tem uma!".
***
Como sempre Joãozinho é um esculhambado, sem papas na lingua e na escrita... A graça nessa piada tá na entonação da frase. A intenção da professora era valorizar a mãe, mas jõazinho escreve a dissertação usando a frase para uma resposta à sua mãe, refletindo bem a situação que inúmeros alunos das escolas públicas vivem hoje em dia. A graça vem da inocência de uns contraposta a realidade do outro, cuja mãe é possívelmente uma alcoolotra e promíscua. Aqui, nessa piada, o que foi banalizado, além do amor filial que não produz as risadas, é o fato de crianças viverem em favelas em situação de alcoolismo e sexualidade explícita, algo que deveria horrorizar, está tão banal que produz risos em função do contraste com o valor do amor filial, que também anda bem desvalorizado.....
Nenhum comentário:
Postar um comentário